quarta-feira, 1 de junho de 2011

Acalanto Apoia - Parto Ativo

Manifesto Pelo Parto Ativo

Janet Balaskas


1.      Todos os partos vividos em liberdade e sem inibições são acompanhados de uma importante movimentação da mulher: ela caminha, fica em pé, de cócoras, de joelhos, deitada, e se movimenta livremente para encontrar as posições mais apropriadas e confortáveis. Não se pode designar uma posição fixa para um trabalho de parto e parto natural e saudável quando a mulher segue seus próprios instintos – porque o parto é ativo, envolve uma sucessão de posições variadas, e não é um confinamento passivo.



2.      Durante milhares de anos, no mundo todo, as mulheres tem espontaneamente vivido seus trabalhos de parto e partos em alguma posição vertical ou agachada – geralmente com a ajuda de alguém ou alguma coisa servindo de apoio. Qualquer que seja a raça ou a cultura: africana, americana, asiática ou europeia, e assim por diante, as mesmas posições verticais predominam. A História confirma as evidências dos etnologistas, que demonstram que o uso das posições verticais prevaleceu ao longo do tempo.



3.      Hoje, a maioria das mulheres de países industrializados são confinadas em posição deitada ou semi-deitada, geralmente no hospital. Esta prática é ilógica, e torna o parto desnecessariamente complicado e caro. Faz com que um processo natural se torne um evento médico, e a parturiente passa a ser uma paciente. Nenhuma outra espécie adota uma posição tão desvantajosa em um momento tão crucial.



4.      As pesquisas revelam sérias desvantagens ao uso da posição recumbente:

·         Deitar-se de costas comprime os grandes vasos abdominais localizados ao longo da coluna vertebral. A compressão da grande artéria do coração (aorta descendente) obstrui a circulação sanguínea em direção ao útero e à placenta, e pode resultar em sofrimento fetal. A compressão da grande veia que vai ao coração (veia cava inferior) restringe o retorno venoso, e pode contribuir para a hipotensão e outros problemas circulatórios, aumentando o risco de grandes sangramentos após o parto.

·         A posição recumbente reduz o potencial de mobilidade das juntas pélvicas. Reduz particularmente as vantagens de se flexionar os joelhos e quadris em alguma posição vertical, ou seja, o ângulo agudo que se forma quando os joelhos vem em direção ao peito (como em posição de cócoras), que abre e expande a pélvis ao seu máximo. Na posição reclinada, o peso do corpo repousa diretamente sobre o sacro, e impede o movimento que a parede posterior da pélvis faz para acomodar a cabeça do bebê à medida que ele desce. Isto reduz significativamente o espaço da passagem pélvica entre a sínfese púbica e o cóccix; perde-se até 30% de potencial de abertura, quando comparado com a posição de cócoras ou posições onde o tronco se inclina para frente.

·         É mais fácil para qualquer objeto cair em direção `a superfície da Terra do que deslizar paralela a esta (Lei da Gravidade de Newton). Em posições reclinadas, o útero tem que trabalhar em oposição à gravidade. Assim, ocorre um desperdício de energia, se produz esforço e dor desnecessários e a duração do trabalho de parto e do parto aumenta. A descida, a rotação e o parto do bebê são mais fáceis quando a posição materna direciona o bebê para a Terra, ao invés de direcioná-lo na linha do horizonte.

·         Apresentações inadequadas do bebê são mais comuns quanto os movimentos espontâneos da mulher, que guiam a rotação do bebê através do canal de parto, são restringidos.

·         Na posição deitada, o parto acontece com uma distenção desigual dos tecidos perineais às custas da porção posterior, o que causa estresse, dor e aumenta o risco de uma laceração ou da necessidade de uma episiotomia.

5.      Os movimentos e as mudanças de posição são mais importantes do que adotar uma única posição considerada ótima, ou, considerada a melhor posição, durante o trabalho de parto. Posições espontâneas de trabalho de parto incluem ficar de pé, caminhar, sentar-se com o tronco ereto, ajoelhar, acocorar ou deitar de lado.



Uma posição para o trabalho de parto é fisiologicamente eficiente quando:



·         Não há compressão dos vasos abdominais.

·         O movimento é irrestrito.

·         A pélvis é totalmente imobilizada.

·         O corpo trabalha em harmonia com a gravidade



Para o parto, a posição de cócoras e suas variantes são as posições mais próximas às leis da natureza, e são conhecidas como posições fisiológicas para parto. Tais posições incluem cócoras completa ou semi cócoras, cócoras em pé ou várias posições de joelhos.



O uso de tais posições verticais produz os seguintes benefícios adicionais durante o parto:



·         Contrações mais poderosas, resultando em um reflexo expulsivo eficiente.

·         Excelente oxigenação fetal.

·         Mínima extenuação e esforço muscular.

·         Excelente ângulo de descida.

·         Máximo espaço para descida, rotação e emergência das partes do bebê que vão se apresentando na saída da passagem pélvica.

·         Ótimo relaxamento do períneo.



Foi demonstrado que quando o uso de posições verticais durante o trabalho de parto e parto é apoiada e encorajada, o número de partos fisiológicos espontâneos aumenta.



6.      Em um parto ativo, o processo fisiológico se desenrola espontaneamente graças à liberação irrestrita dos hormônios do parto. A liberação de ocitocina é ótima, resultando em contrações eficientes no trabalho de parto, num reflexo expulsivo eficaz no parto, em fácil liberação da placenta e boa retração do útero depois. Os altos níveis de endorfinas aumentam a habilidade da mulher para lidar com a dor sem intervenções. Os efeitos altruístas dos altos níveis hormonais, tanto na mãe quanto no bebê, promovem o vínculo na crítica hora após o parto.



7.      A importância de um ambiente propício para o trabalho de parto e nascimento, onde a mãe se sente segura e sua privacidade é protegida, é de crucial importância. Tais condições são essenciais para garantir os movimentos espontâneos nas posições verticais e também para a excelente liberação hormonal – fatores chave para um parto ativo.



8.      A imersão em água quente, na temperatura do corpo aproximadamente, e durante a fase ativa do trabalho de parto (5-6 cm dilatação), tem se mostrado eficaz como facilitador de um parto ativo. As contrações podem ficar mais intensas, e a propriedade de flutuação da água aumenta o relaxamento, o conforto e a mobilidade. Estudos tem demonstrado que a modificação da dor é significativa. Utilizada inicialmente com a intenção de facilitar o trabalho de parto, uma piscina de parto também pode oferecer um ambiente favorável para o parto, quando as condições são adequadas.



9.      Vários estudos, nos últimos 50 anos, indicam que quando o parto é ativo, as vantagens são:





·         O ritmo natural, e a continuidade do parto não sofrem interrupções ou interferências.

·         As contrações uterinas são mais fortes, mais regulares e mais freqüentes.

·         A dilatação é favorecida.

·         Um relaxamento mais completo se torna possível entre as contrações.

·         A pressão intrauterina é consideravelmente mais alta.

·         O trabalho de parto e o período expulsivo são mais curtos – alguns estudos apontam para uma porcentagem de tempo mais curto de 40% para o grupo em posição vertical.

·         Existe mais conforto, menor dor e estresse; portanto, a necessidade de analgesia diminui.

·         A condição do recém nascido é geralmente ótima.

·         As mulheres sentem que são participantes plenas, que estão no controle, e, sentem com maior freqüência que parir é uma experiência maravilhosa e satisfatória.

10.  Não há dúvidas para ninguém que tenha vivido ou assistido tanto o parto ativo quanto o parto passivo, que um processo de parto ativo é geralmente mais fácil, mais seguro e mais recompensador tanto para a mãe quanto para o bebê. Após um parto ativo, a mãe sente que ela pariu seu filho, ao invés de sentir que seu filho foi extraído dela. Ela e seu bebê foram, juntos, participantes plenos, e ambos estão alertas, não estão sob o efeito de drogas, e estão saudáveis quando se encontram face-a-face. Isto cria, inevitavelmente, as melhores condições possíveis para a vinculação materno-infantil, e para a formação de bases para relacionamentos amorosos e saudáveis na família.



11.  O parto ativo é mais que simplesmente uma questão de posições. Apesar da liberdade de movimentação espontânea e do uso de posições verticais ser fundamental, a definição essencial de um parto ativo é aquela na qual a mulher está no comando de suas escolhas e decisões. É esta condição que permite a ela se beneficiar de uma parceria produtiva e mutuamente respeitosa com os profissionais que a atendem. Quando as intervenções são necessárias, os princípios do parto ativo ainda podem ser úteis. Podem ser combinados com os procedimentos obstétricos, e ajudar a minimizar os riscos e os efeitos colaterais. Quando este é o caso, cada parto, seja natural ou assistido, pode ser chamado de parto ativo.



12.  As conseqüências a longo prazo de intervenções desnecessárias no período ao redor do nascimento , tanto para a saúde quanto para o bem-estar, são cada vez mais preocupantes. Com base em descobertas de pesquisas, experiências modernas e instinto ancestral, mudanças profundas na atitude e na oferta dos serviços de maternidades, na educação das parteiras-obstetrizes e na preparação das mulheres para o parto são inevitáveis para que se aumente o potencial para o parto fisiológico.



13.  O parto, na vida de qualquer mulher, é um ato excepcional, uma viagem de força, parcialmente instintiva e parcialmente aprendida. É necessário uma certa destreza para se fazer a maioria das coisas, e o parto não é exceção. Uma mulher que deseja viver o parto plenamente precisa de mais que informação e conhecimento sobre gravidez, trabalho de parto e parto. Ela também precisa de preparação física, mental e emocional ao longo de sua gestação, para que possa adotar posições verticais com facilidade e conforto, e desenvolver confiança em sua habilidade inata para parir. A preparação para um parto ativo precisa oferecê-la formas para obter um relaxamento profundo de seu corpo e sua mente, para que ela possa acessar e confiar em seu potencial instintivo.



14.  Além de ser uma celebração na família, o nascimento de um filho é um evento crítico e incerto, que envolve suspense em relação ao seu resultado. As habilidades para parir, e para atender partos, são valorizadas em todas as sociedades. No mundo moderno e ocidental, a aplicação da tecnologia ao nascimento trouxe, sem precedentes, segurança e procedimentos que salvam vidas. Entretanto, o uso indiscriminado e rotineiro de tais tecnologias, aplicadas na grande maioria das mulheres, é inapropriado, e tem causado um aumento no número de partos complicados e cirúrgicos em todo o mundo. Este contexto leva à perda do saber valioso e essencial do partejar, e aumenta a dependência na tecnologia. Vai corroendo a satisfação e a confiança tanto das mães quanto das parteiras-obstetrizes. Os médicos se tornaram os especialistas em partos. Mais ainda, o equilíbrio de poder é tal que a capacidade da mãe foi tão minada até chegar ao ponto da maioria das mulheres terem perdido o contato com o conhecimento e sabedoria antigos sobre o parto, que antes eram passados de geração em geração, de mãe para mãe. Este equilíbrio de saber e poder deve ser restaurado através da recuperação do potencial instintivo, da liberdade e do poder de quem faz o parto, a mãe. O Movimento pelo Parto Ativo é comprometido com o empoderamento das mulheres no parto e da redescoberta global do parto.

* Escrito pela primeira vez em Abril de 1982 por Janet e Arthur Balaskas. Revisado por Janet Balaskas em Fevereiro de 2001. Tradução autorizada: Talia Gevaerd de Souza.

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